Novo voo, bem baixinho... o bater das asas que leva longe uma alma que já vem de tempos distantes... e num instante, um sussuro, uma brisa, um segredo, um mistério... Queima, incendeia um corpo que já parece morto, que já parece não ter sentido, destemido acorda... Assim se levanta e caminha para uma luz, esquecida, reconhecida... Para trás fica uma vida, servida, bebida, com aromas de dor, com paladares de amor... belas tristezas da saudade do passado que a idade desembrumou... alguém para guiar, alguém a quem lembrar que ser ancião não é apenas sabedoria eterna... é o retomar da sabedoria perdida e a preparação para receber a nova lição... é perceber que tudo é um ciclo que mais cedo ou mais tarde se vai reiniciar... Para trás... algo vai ficar... alguém que agora terá ouvir a sua voz interior a cada momento pois já não existe a voz do: "no meu tempo...", "quando te acontecer..."," ainda me lembro que...", "vê lá...". Esta voz agora emudeceu... ensinou-me, em tempos, que há algo cá dentro pronto a ser ouvido... que grita para ser ouvido... se estivermos bem quietos, bem calmos e calados conseguimos até ouvir o seu sussurar guiando-nos pelas estradas aparentemente injustas da vida... Neste momento essa voz diz-me: "nada é injusto, tudo tem a sua razão, tudo acontece no seu tempo, pois sem o seu tempo se perde e perde o seu sentido".
Que assim seja e assim será.
Obrigada F
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