Despejei as pedras de suposta luz que carregava
O que pensava ver, não era luz, nem sombra
Era um estado intermédio de semi-vida, semi-dor, semi-morte.
Deixei que se apagassem uma a uma
Naquele mar de intensas ondas,
Até ao estado zero.
Nua, despida do que não me define
Chego aqui ao cimo desta montanha.
O dia e a noite já não moram aqui
Nem a lua, nem as estrelas, nem o sol...
Uma Terra de nada e coisa nenhuma
Onde ser se perde em bruma
Onde querer se perde em silêncio
Onde ter se desfaz em sombra
Onde sonhar se encontra em celebração.
Engolida e mastigada por esta montanha
Desmembrada, pedaço por pedaço
Desintegrada, célula a célula
Sou NADA, Sou TUDO!
Assim me torno alimento desta Terra
Nutro os bichos e as raízes das plantas que aqui crescem
Embebedo-me desta água que me percorre.
Fico aqui...assim...em ciclo...dia após dia...
E mais um dia...E outro...
Este tempo é intemporal
As horas são dias
Os dias são horas
As horas são noites
As noites são dias
E num compasso deste tempo
A terra ferve
Começa a tremer, com o som de tambores
Algo se ergue.
Células que se reúnem
Numa nuvem de água
Brilha ao sol, um manto de partículas de ar em fogo
À sua volta forma-se um tornado que eleva a terra
Partícula a Partícula
Esta terra é absorvida por aquele manto brilhante
Tomando uma forma indefinida
Que gira e gira em torno de si mesma
Cada vez mais e mais veloz
Sempre mais veloz
Até à imobilidade da velocidade...
Na minha condição incondicional
De ser tudo e ser nada
Observo que cada elemento daquela forma
Era meu.
Agora regenerado
Agora revivificado.
E neste agora tomo consciência
De que não possuo aquele corpo
Ele É...
Aspirada para aquela forma
Uma essência que se reúne a uma matéria imaterial
Uma alma que se retrata num novo corpo...
Continuando em giro...
E giro
Constantemente
Irreverentemente
Ansiosamente.
Até que...
O Corpo pára
Mas a Alma prossegue o movimento...
Do centro da Mãe-Terra
Nasce uma Vibração
Que sobe, sobe, sobe, sobe
Rebenta nos meus pés
Inunda o meu corpo numa vibração extasiante
Leva-me a inspirar desde o meu centro,
Unido ao centro da terra
E dessas entranhas
Sobe a expiração
Selvagem
AAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHH
Esta é a voz da Mãe Terra
Que nos relembra
Que somos ciclo de Morte e Renascimento
Que o Corpo é o nosso Templo e o seu Templo
Que na Luz e na Sombra
SOMOS, mesmo deixando de SER.
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