Lua do Silêncio

Ou lua vazia, ou lua negra. É a lua de todas as possibilidades, de todos os inícios e de todos os fins.

Mãe-Negra


Prelúdio

Pela estrada desce a noite
Mãe-Negra, desce com ela ...
Nem buganvílias vermelhas,
nem vestidinhos de folhos,
nem brincadeiras de guisos,
nas suas mãos apertadas.
Só duas lágrimas grossas,
em duas faces cansadas.
Mãe-Negra tem voz de vento,
voz de silêncio batendo
nas folhas do cajueiro ...
Tem voz de noite, descendo,
de mansinho, pela estrada ...
Que é feito desses meninos
que gostava de embalar? ...
Que é feito desses meninos
que ela ajudou a criar? ...
Quem ouve agora as histórias
que costumava contar? ...
Mãe-Negra não sabe nada ...
Mas ai de quem sabe tudo,
como eu sei tudo
Mãe-Negra! ...
Os teus meninos cresceram,
e esqueceram as histórias
que costumavas contar ...
Muitos partiram p'ra longe,
quem sabe se hão-de voltar! ...
Só tu ficaste esperando,
mãos cruzadas no regaço,
bem quieta bem calada.
É a tua a voz deste vento,
desta saudade descendo,
de mansinho pela estrada.

(Alda Lara, 1951)



O meu mundo já não me chega, quero mais, quero tudo, não querendo nada!

Quero dar tudo, sem nada receber. Quero crescer, quero sentir-me segura, quero sentir o peito a queimar nesta suave brisa, não quero que se apague, não a consigo deixar apagar!

Quero sentir-me novamente pequenina, sendo grande. Quero viver, quero respirar, quero sentir tudo!

Não quero perder nada, querendo perder tudo o que seja profano e efémero! Quero estar no infinito do absoluto e tê-lo nas minhas mãos, estando eu numa das suas células! Quero o impossível!

Quero o sonho e a realidade! Quero abrir-me e fechar-me tal "boas-noites"! Quero ser noite e ser dia! Quero ser Lua e Sol!

Já nada me chega! Quero ser água, ar, terra, fogo, éter! Quero ser alma e espírito! Tudo me parece distante estando a milímetros do meu toque!

Quero ser espada e báculo! Quero ser Tradição e Futuro!

E sou simplesmeste eu, como quero ser, tendo tudo aos meus pés, para palmilhar e conquistar!

Não sou aventureira, nem conquistadora! Sou só eu mesma...mas o meu mundo já não me chega! Quero mais, muito mais!

E tu?

Parece duro e injusto depois de tanto tempo
Ver-me entre a dor de uma escolha que não é a minha
E a volta ao meu mundo, isolado de tudo!
Ainda não me deixei apanhar por ele
Mas a cada hora a sua voz me parece mais aconchegante!

Não quero, custou muito chegar aqui
Parece que me dá um impulso para trás
E não para a frente
Para onde realmente quero ir!

Quanto mais tempo aguentarei esta angústia
Esta dor camuflada de alegria efémera!
Quero fugir para uma terceira alternativa
Mas não a encontro pois algo se fechou
Um coração fiel a um só sentimento...

Não há fuga possível à dor...

Quero fechar-me em mim mesma
Talvez assim consiga descobrir os segredos de mim
Que desconheço...
Ou talvez não!

Cada passo é doloroso...

Ainda sonho com as situações perfeitas
Com pessoas perfeitas
Num mundo perfeito!

Uma Utopia
Na qual não consigo deixar de acreditar!
A Utopia que queria trazer para o meu mundo...
Mas o meu mundo não tem pessoas...

Uma fuga...
Sem saída!


A solidão parece o lugar mais seguro para se estar.



Quando algo forte nos transforma
Quando algo nos faz ir ao fundo
Para perceber o que é estar bem
Quando algo precisa de ser mudado
Estacamos...
Ficamos sem reacção...

Por vezes o que queremos não interessa
Pois só queremos a felicidade dos outros
Ou talvez seja a nossa também...

Por vezes o que interessa é deixar-se levar
Às últimas instâncias
Para mais uma vez aprender pela dor...




Pulsante
Sente o coração desta Terra
Respira
Sente o ar nos seus pulmões
Sim, ela vive como nós!

A Terra também ri e também chora
A Terra também sofre e evolui
E nós como seus átomos
Rimos, choramos, sofremos
E evoluimos com ela.

Os nossos dias são as suas horas
Os nossos espaços são o seu corpo
Os nossos erros são as suas dores
A nossa Felicidade a sua Luz.

Poluimos o seu sangue
Cortamos os seus braços
Ferimos o seu corpo
E mesmo assim
Compassiva...
Esta mesma Terra nos mantém vivos.

Alma do Mundo
Mãe Paciente
Que abraça os seus Filhos
Que ensina e aprende
Que tudo dá e pouco recebe.

Alma do Mundo
Chama da vida
Que alimenta cada particula
Que ilumina cada célula
Que veio do Mundo Celeste
E a Ele há-de voltar!

Noites de Inverno:
A força do vento
O frio da neve
Ou o crepitar da chuva.
A terra seca
A aguardar as sementes
A aguardar o Sol da Primavera!

Nuvens negras nos nossos ombros
Chuva pesada nos nossos pés
Nevoeiro cerrado
Cega os nossos olhos,
Mas cegará o coração?

Estas noites que parecem eternidades
Este gelo que fere a alma
Alma de pássaro
Que sobrevive bem resguardada
Num esconderijo aquecido
Pelo fogo do espírito.

Espírito que luta
Contra cada camada de neve
Contra rajada de vento
Contra cada Tempestade
Que resiste aos Trovões
Da vida enfurecida.

E a Senhora do Inverno
Continua guardando a sua alma
Aquecendo-a com o seu coração
Guardando cada gesto de beleza
De carinho, de amor
Para não o deixar extinguir-se.

E assim, alma, coração e espírito
Lutam em conjunto
Até à sua Primavera
Que um dia, nesta Eternidade
Há-de chegar...

Who am I?

A minha foto
Desde cedo, começou por explorar práticas espirituais que a ligam directamente à Natureza, aos ciclos da Terra e ao Sagrado Feminino. Apaixonada por todas as formas de expressão criativa, começou o seu trajecto na escrita criativa, artes plásticas, desenho e pintura. Criou e participou em diversos blogs de escrita poética, investigação e espiritualidade. Desenvolveu a sua formação académica na área da Comunicação e participou em várias formações de Dança Contemporânea, Consciência Corporal, Teatro, Escrita Criativa e Artes Plásticas. Actualmente estuda Movimento Oriental. Em 2007 foi a fundadora do conceito ArtingLuna, através do qual expressa a sua linha de artesanato, em acessórios de tecido, incensos rituais, cabazes gourmet, entre outros. O conceito ArtingLuna é também a base pela qual tem desenvolvido a conexão terapêutica da Arte com a Espiritualidade, através de vários ateliers, workshops, encontros e círculos.

Um história para todos...

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