Lua do Silêncio

Ou lua vazia, ou lua negra. É a lua de todas as possibilidades, de todos os inícios e de todos os fins.

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Fern segurava aquela pequena criatura com todas as suas forças e pensava:

Tão curto é já o meu destino e tão curta a tua existência... que poderei ser eu para ti pequena Indrin, agora que estás sozinha no mundo?

Depois de salvar a pequena menina procurou quem reconhecesse aquela família, isolada no meio da floresta, que deixou ao mundo aquele pequeno ser indefeso, uma pequena fada perdida no fogo.

Nada! Nem uma alma perdida sabia as suas origens.

Para trás ficava a tragédia daquela casa queimada, vidas perdidas...

Na sua sossegada vivência já se acostumava aos sorrisos cristalinos de Indrin, à sua presença pura que gritava silenciosamente pelo seu afecto.

Indrin era uma menina de olhos de mel e cabelo de fogo, doce e curiosa. Ficava horas embebida nos afazeres de Fern. Sentada no seu banco de tronco de carvalho observava cada movimento da anciã com devoção.

O tempo foi passando naquela cabana perdida no meio daquela floresta quase mágica...

Horas, dias, semanas, lua após lua, estação após estação o coração de Fern sossegava, não estava só no mundo, assim como Indrin contava com protecção maternal da velha feiticeira.

Sabia que o fio da sua vida não era longo o suficiente para a acompanhar. O seu cabelo negro, há muito se tinha tornado num manto branco, como neve, as suas forças não respondiam como antes, mas algo a mantinha viva: Indrin. 

Os seus dias eram passados a reconhecer, colher, secar e usar ervas; acender o fogo sagrado de Brigid; cozinhar; fiar, tecer e costurar; aprender o céu, os seus Astros, as conjunções, o que cada uma significava, as suas conjunturas e que feitiços poderiam ser feitos quando...

Indrin ouvia-a falar atentamente como se absorvesse toda aquela sabedoria. Porém, tinha apenas 20 estações. Como podia uma criança tão pequena aprender tudo aquilo, não era possível, mas o tempo a prática e a repetição iriam ajudá-la, dizia Fern para si mesma.


Certa noite, perdida no tempo, como todas as outras noites, no meia daquela Floresta Quase Mágica, Indrin acordou com um riso. Era um riso agudo e não parecia ser da séria e composta Fern. Quem seria? De onde viria? Qual a razão daquele riso?


O riso parou por uns momentos, fechou os olhos e o riso voltou, desta vez mais perto...


Quando abriu os olhos viu uma luz a flutuar ao pé de si, era dali que provinha aquele riso. Não sentia medo, na sua mente ainda sonolenta só conseguia pensar: Porque se ri? Parece que lhe contaram uma piada!


A resposta foi inesperada, mas imediata, uma voz aguda, distante, mas situada bem à frente do seu pequeno nariz:


- Mexes as orelhas quando dormes, como as fadas!


Humm?


O que tinha acabado de ouvir, pensava Fern...uma voz quase sumida no ar a escarnecer das suas pequeninas orelhas pontiagudas, sem qualquer pintinha de vergonha! Malvada!


-Quem és tu? Ou devo dizer o que és tu? E porque me vens incomodar as orelhas enquanto repouso os meus olhos, sem te apresentares sequer?


-Calma muy nobre princesa Indrin, não quero ofendê-la! Sou a Boon, a fada dos sonhos. Ias ter um pesadelo e por isso vim acordar-te para dares um passeio comigo. Queres vir?


-Eu não sou princesa, para começar esta conversa imaginária dos meus sonhos. Se ia ter um pesadelo devias deixar-me tê-lo e não vou a lado nenhum com uma luz pirilampo de se ri das minhas orelhas enquanto durmo! - responde Indrin


-Já estou a ver que mais uma vez me tocou uma refilona! Devem pensar que eu tenho a paciência dos entes para vos aturar... Se não quiseres vir não vens...eu vou andando sozinha.


E Boon, lá foi flutuando em direcção à janela. Indrin, muito indignada pergunta:


-E como sabes tu o meu nome?


Boon presunçosamente responde:


-As fadas sabem tudo.


-E Boon Sabe-Tudo, diz-me onde me queres levar? - questiona Indrin.


-Quando lá chegares vês - responde Boon.


Indrin intrigada e curiosa com as palavras daquele ser mágico que a impelia a segui-la deu por si a sair da cama e a caminha na sua direcção, até que lhe pergunta:


- Como vou eu sair, não consigo saltar a janela!


Com uma risada, só sua, Boon responde-lhe:


-Como sabes se não arriscaste?


E ao olhar para os seus próprios pés descobertos, Indrin percebeu que estes não tocavam o solo... Estava a voar, tal como Boon. Num impulso aquela luzinha brilhante janela fora, Floresta dentro rumo à aventura...

Em certo tempo perdido na história, numa floresta quase quase mágica, vivia uma feiticeira já velhinha. Passava os seus dias a fiar a lã do destino, a mexer o caldeirão da vida, a cuidar das ervas dos Deuses, nos seus afazeres repletos de conhecimentos que morreriam com ela pois não tinha descendentes.

Esta anciã solitária vivia atormentada com o passar dos dias e com a sua caminhada lenta para a morte, sem deixar a alguém tudo o que aprendeu da sua mãe, da sua avó e, acima de tudo, da vida.

Deixar todo aquele conhecimento ser queimado com ela, desaparecido nos dias do tempo... Que desperdício!

Seria uma lei do destino que ela propria fiara?

Seria uma prova a superar?

Nunca quis casar, nem ter filhos. Não confiava em ninguém. Embora as 240 estaçoes que tinha pesassem, preferia continuar isolada na sua cabana, perdida no meio daquela floresta quase mágica.

Num final de tarde, Fern afastou-se um pouco mais que o normal da sua rota de ervas e foi até à margem do rio para encontrar algumas ervas que só cresciam ali.

Quando se aproximou do rio começou a sentir um cheiro muito estranho no ar: fumo?
- Será que a floresta está a arder? - pensou ela.
Nesta altura do ano eram muito comuns os incêncios na floresta devido ao calor intenso que Litha trazia, juntamente com o descuido daqueles que por ali ousavam instalar-se. Tentou seguir o rasto do fumo e a certa altura, já o fumo era intenso, como novoeiro cerrado, ouviu gritos e ... um choro de criança? Seria?

Largou as suas ervas, correu na tentativa de ajudar alguém que estaria em apuros. À medida que adentrava naquela estufa fumarenta , o calor era cada vez mais intenso, mas ela corria incansável até chegar a uma clareira com uma casinha de madeira. Estava já em chamas altas, que alastravam num fogo destruidor pela floresta fora. De dentro da casa ouvia os gritos, o choro da criança, vidro a partir-se devido ao calor do incêndio incontido!

Desesperada, sem saber como ajudar, dirige-se à entrada da casa que cuspia labaredas e entra coberta pela sua capa, tentando proteger-se daquele fogo sedento.

A casa estava a ser completamente consumida pelas chamas, tentou subir as escadas para chegar à origem dos gritos e do choro, mas não conseguia!

Disse em gritos para se fazer ouvir:
- Está aqui ajuda! Estou aqui para tentar ajudá-los! Mas não consigo subir!

A resposta não tardou:
-Salve a nossa bébé, por favor!

Era uma familia que ali vivia com uma pequena criança de apenas 4 estações!

Naquele momento uma parte do primeiro andar da casa desaba, e com ela as escadas, já em chamas. Numa pequena ilha, ainda de pé encontravam-se os pais e a criança em pânico e logo abaixo Fern, sem conseguir subir, sem saber o que fazer.

A mãe apenas conseguia dizer:
-Salve a nossa filha, por favor, salve-a.

Sem conseguirem pensar muito bem, os pais da criança, tiram as roupas do seu próprio corpo e ataram-nas todas numa corda para a descer até Fern. Conseguiram e Fern saiu de imediato para que a criança respirasse e não morresse devido ao fumo que inalava. Mas prometeu aos pais:

- Eu vou procurar ajuda!

O pai diz:

-Cuide da nossa menina, isso é o que mais importa agora!

Ao sair coberta pela sua capa e a proteger a criança, a casa desaba consumida pelas chamas intensas que lavraram centímetro por centrímeto da sua área e com ela os pais daquela menina, entregue aos seus braços, a chorar como se percebesse que tinha acabado de perder aqueles que a trouxeram ao mundo.

Fern chorava, assustada, sem saber o que fazer. Apertou a criança contra o peito e disse:
- Estás a salvo, eu vou cuidar de ti, shhh!

Na roupa da menina, havia um alfinete que dizia: Indrin.

Era o nome da menina. Com a casa desfeita à sua frente, a floresta a ser consumida pelas chamas Fern começa a embalar a criança com a canção de embalar dos anjos:
"Dorme, dorme anjinho do céu
Dorme hoje que amanhã outro amanhacer se ergue
Sonha lindo anjo, sonha alto
Voa como um pássaro..."

(continua...)

Who am I?

A minha foto
Desde cedo, começou por explorar práticas espirituais que a ligam directamente à Natureza, aos ciclos da Terra e ao Sagrado Feminino. Apaixonada por todas as formas de expressão criativa, começou o seu trajecto na escrita criativa, artes plásticas, desenho e pintura. Criou e participou em diversos blogs de escrita poética, investigação e espiritualidade. Desenvolveu a sua formação académica na área da Comunicação e participou em várias formações de Dança Contemporânea, Consciência Corporal, Teatro, Escrita Criativa e Artes Plásticas. Actualmente estuda Movimento Oriental. Em 2007 foi a fundadora do conceito ArtingLuna, através do qual expressa a sua linha de artesanato, em acessórios de tecido, incensos rituais, cabazes gourmet, entre outros. O conceito ArtingLuna é também a base pela qual tem desenvolvido a conexão terapêutica da Arte com a Espiritualidade, através de vários ateliers, workshops, encontros e círculos.

Um história para todos...

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