Frustração é uma palavra que atravessa o dia-a-dia de cada pessoa, não só na dança, mas na sua vida e no seu trabalho pessoal para que a sua essência se consiga expressar. O desafio é conseguir transformar o sentimento de derrota, numa faísca de aprendizagem, foco e atenção.
Dias intensos de trabalho e prática, em que o cérebro não consegue acompanhar o ritmo do corpo, mas a adrenalina está pulsante, não há uma paragem porque dentro também não existe a palavra desistir.
Hoje aprendi o quanto é valioso abrir mão destas crenças sobre nós mesmas, do nosso sentir, do nosso enclausuramento na dor, da dor em sim.
A dor por si só corroi profundamente, a frustração alimentada é uma bomba relógio que vai implodindo, cada vez mais forte e intensamente, se não permitimos que ela atravesse, se não lhe damos espaço a que ela se expresse, não aprendemos.
Estar na dor é uma busca interna de sair dela, de sair do esforço, do limite, da auto-flagelação e até da auto-sabotagem. A aprendizagem é dura, porque não está só no saber fazer e reproduzir o que vemos, está em nos deixarmos penetrar pelos sentimentos que aquele movimento, dança, ritual, sabor, situação, conflito, nos trazem, levá-los até ao nosso coração e permitir-lhe uma alquimia que se expressa em acção e em poder. É este o poder que vem de dentro, e não é o poder da capacidade, é o poder do ser, da presença.
Cada momento é uma travessia, mesmo que possa parecer o fim do mundo, ou uma morte, se reflectirmos sobre o caminho que nos trouxe até aqui,quantos fins do mundo e quantas mortes passamos? E o que fez isso de nós?
Gosto de questionar e deixar suspensas as questões, porque como em tudo na vida, não há respostas definitivas e sem vida. Não somos sempre as mesmas pessoas, principalmente quando nos permitimos dar o corpo e a alma à alquimia da transformação.