Lua do Silêncio

Ou lua vazia, ou lua negra. É a lua de todas as possibilidades, de todos os inícios e de todos os fins.



Quando uma mulher se sente insegura, perdida, se questiona sobre o seu lugar, ouvem-se os seus cascos pela terra. Quando a mulher sente uma dor que não consegue curar, ouve-se o seu relinchar.
Raras dizem tê-la visto na encruzilhada... Porém muitas a ouvem, muitas a chamam, para fugir, mas o que não sabem é que essa fuga as levará ao mesmo lugar, tantas vezes quantas forem necessárias, para que se questionem, sobre o seu lugar, a sua entrega, as suas certezas, o seu caminho.

Diz a lenda que ela apareceu com uma mulher-loba.

A mulher-loba, selvagem, amazona, na solidão da floresta, sentia um vazio no seu peito por se apaixonar por tudo o que se desvanecia. A paixão atravessava-a, mas não ficava, não se transformava. Certa noite, ela desejou fortemente que a paixão chegasse para que a pudesse agarrar e fazê-la permanecer, florescendo em Amor. E assim foi, a paixão chegou, ela sentiu-se crescer, crescer, crescer...sentiu-se abrir, rasgar... a sua pele caía em pedaços, o seu coração batia tanto que ela se sentia morrer, queria gritar, mas a sua voz falhava... o que aproximava o Amor da Morte estava a manifestar-se em si, mas ela não queria perder a sua liberdade, a sua identidade, não queria se dissolver e por isso chamou a sua égua para que ficasse perto de si, sempre.

Sempre que se sentisse morrer ela tinha a certeza que podia fugir e assim, as dores passavam... Um dia, ao fazer amor com o seu amado, ela sentiu tanto medo de que a dissolução estivesse perto, que chamou Epona e fugiu para as florestas...mas o seu desejo tinha sido tão forte, que Epona a trouxe de volta, vezes sem conta.

A mulher-loba acordou numa noite com a lua iluminando o seu rosto e o do seu amado e soube que era o momento. Os seus olhos cruzaram-se tão profundamente que as suas almas se tocaram, os seus corpos se fundiram num só corpo que ondulava e rebentava, abrindo-se como o oceano, os seus corações batiam num uníssono com o coração da Terra.

Nesta rendição, dois corpos sagrados resnasceram e partiram unidos para novas paragens.

Epona permaneceu. Hoje ouvem-se os seus cascos, o seu relinchar... E quando uma mulher decide fugir à entrega total em nome da sua aparente liberdade ou individualidade, ela leva-a por caminhos tortuosos e trá-la de volta, até que ela possa aprender a lição da rendição ao sagrado masculino, como mulher sagrada e completa.
 
Fotogafia: Carla Costa
Edição fotográfica: Francisca Irina Faísca
Texto: Ilda Baeza


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Desde cedo, começou por explorar práticas espirituais que a ligam directamente à Natureza, aos ciclos da Terra e ao Sagrado Feminino. Apaixonada por todas as formas de expressão criativa, começou o seu trajecto na escrita criativa, artes plásticas, desenho e pintura. Criou e participou em diversos blogs de escrita poética, investigação e espiritualidade. Desenvolveu a sua formação académica na área da Comunicação e participou em várias formações de Dança Contemporânea, Consciência Corporal, Teatro, Escrita Criativa e Artes Plásticas. Actualmente estuda Movimento Oriental. Em 2007 foi a fundadora do conceito ArtingLuna, através do qual expressa a sua linha de artesanato, em acessórios de tecido, incensos rituais, cabazes gourmet, entre outros. O conceito ArtingLuna é também a base pela qual tem desenvolvido a conexão terapêutica da Arte com a Espiritualidade, através de vários ateliers, workshops, encontros e círculos.

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